E eu digo, e ainda caio...

"Se você por acaso cair, não culpe a pedra ou o degrau. Culpe sua visão e atitude falha diante das lombadas no caminho...."RiCarvalho

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Assim Sendo

(RiCarvalho)

Não conheço melhor infância que a alheia
devo viver um momento invejoso;
ou talvez já o tenha vivido e ficado apenas com a lembrança,
pois mal sei o que passei - apenas daquilo que me nostalgia.

De certo o mundo muda - com algo,
em um ciclo que nos leva ao mesmo local
onde nossos pais se viram crianças
e logo após adultos descompassados.
assim como nos veremos,
E aos nossos descendentes.

Vivemos nos achando a evolução
(A geração do futuro)
E em seguida nos veremos como nossos pais,
avós, e enfim - ao túmulo.
(Aguardada paz)
...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Areias do Tempo

(RiCarvalho)
Não aceito os parabéns pelo fim de um ciclo incompleto
Não aceito as felicitações - mesmo as sinceras
Não quero ser sabido apenas por uma data
Não quero, e não quero!

Em meu desejo egoísta aceito (até) certas coisas:
Passagens para uma nova vista;
Gracejos de algumas divas;
(nada mais - talvez)

Não se trata de mágoa pelo tempo,
Ele sempre passa – somos passageiros...
Desta locomotiva urgente.

A mágoa não é pelo tempo que passa
É pela minha ineficácia em aproveitá-lo – a tempo.
(sem contratempos ignóbeis - imaturos)

Vejo-me como um eunuco nesta vida,
Sem os instrumentos necessários
Com um grande harém a minha volta.

A saúde já não é a mesma
O entusiasmo diminuiu
(só o desejo continua)

Desejo uma nova chance que nunca virá
Desejo uma máquina ficcional para voltar
Olho para trás, ouço um riso irônico, vejo pegadas
tortas...
(sinto-me um tolo)

Resigno-me do passado.
Volto-me para o presente e minha luta diária
Esforço minhas íris e a imaginação ao que me espera
(tento vislumbrar um futuro melhor, diferente)

Sobra-me a esperança vã de que com minha presente
luta,
As batalhas diárias, da possibilidade de, quiçá,
desviar do ciclo
Elevando-me a um novo horizonte.
(novo, novo e maduro)

Preciso constantemente das novidades deste mundo
Que urgentemente passa – quase sem graça.
(mas quero direito)
Quero o novo e dispenso as desgraças – quem me dera.
(Maturidade)
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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Plágio

(RiCarvalho)

Creio ter perdido a linha da poesia
Vagando dentre o labirinto dos dizeres
Pensando nas irresolutas verdades
Brincava com a rima que me dizia:
- cante poeta!

E agora?
Mas nada me dizes, não mais...
Mais que tudo já dito... Não mais!

As musas de outrora me renegam
Os hinos de amor me evitam
A riqueza da vida me cega

(veneráveis poetas)

Livros e livros, poemas e mais poemas
Tento roubar-lhes a inspiração
Tento, tento, tento...
(mas temo tornar-me um pagão)

E ainda nada me dizem, não mais
De tudo que já me disseram – não mais...

Parece que fui ensurdecido por um grito emudecido
Que silenciosamente me diz: acabou!

“Que seja infinito enquanto dure” disse-me Vinicius.
“O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?”
Por favor Clarice, me ensine a intensidade do que dizes,
Pois “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
(Gentil Pessoa compartilhe a sua inspiração)

Pois me sinto oco, um vazio dentro de outro
Minha escrita parece-me repetição em um horizonte
(sem fim)

Vejo os montes, ouço o vento, vivo a vida - tento.
Clamo o amor, e meu planto é para amá-lo

Mas não vejo o novo formar-se em minhas rimas
Sinto apenas o plágio da inspiração eternizada
Por aqueles que mereceram o louvor do verbo
E se eternizaram
(inexoravelmente)
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Formigueiro

(RiCarvalho)

Subindo e descendo
Descendo e subindo
Fuja ! fuja ! fuja...
Saia do rastro do inverno
- Consuma a terra enquanto der!

Vai! Vai! vai...
Sem parar...
Se pensar...
Sem olhar...

É só ver, quem viver irá morrer;
Se morrer, aonde vai dá?
- Diga aos homens que há O homem.
Apenas diga...
Sem certezas – só problemas;
Gera medo – perde arreio.

Anda! Anda! Anda...
Tic-tac, o relógio canta.
E quem parar, e quem pensar:
- Irá dançar.

Mas quem ouvir,
Mas quem dançar,
Sem outro jeito
Irá cantar.

Num novo coro com novo povo.
São sapientes. Tão envolventes...

Mas sou formiga, não tenho rima.
Eu só trabalho – não paro e penso.
Mas as cigarras em sinfonia me deram o tom...
Cantei com graça e criei asas.

E’sta formiga levantou vôo.
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Momentos

(RiCarvalho)

Acordei assim:
já não sou o mesmo,
sou outro em mim mesmo;
uma cocerinha
na ponta da língua;
alivio profundo,
um momento oportuno...

Não sou mais um vazio,
estou por inteiro;
me vejo no mundo
e estamos juntos...

Não me estranhes:
os saltos no ar;
os banhos de mar;
os gritos e grunhidos;
os beijos e o amar...

Sei que não dura:
apenas momentos,
e é tão raro;
sempre tão caro...

(O aproveito)

Estou tão feliz,
Mas não me iludo.
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Preciso-te poesia

(RiCarvalho)

Nada, sinto muito...
Não tenho idéias,
Mal lhe sei.

Procuro-te e nada.
Nada, nada, nada!
(Merda)

Sinto um vazio,
Muito além do que preciso.
Mal consigo concebê-lo.

Meço as idéias que não tenho
Busco rabiscos sábios
(Poemas claros)

Nada! não lhe enxergo...
Vias de regra.
(Métricas, rimas, inspiração)

Preciso-te poesia
(onde te encontras?)
...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lamentos

(RiCarvalho)

Sinto um passado próximo me perseguir
Imagino minha sanidade tentando fugir
A maturidade qu’eu tinha infantilizando-se
(pergunto-me como me vendaste)

Tempo, escolhas, viver e morrer
Uma infinitude de não se saber
Se for, se será ou se foi. E se...
Se soubéssemos de tudo, como fosse

Fosse tudo isso possível – como não
Sendo tudo especulação – como sempre
Ainda nos lamentaríamos, ou não...

Sinto passos leves atrás de mim
Imagino minhas pegadas tentando sumir
(e pergunto-me sobre o que fingir)
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Musa sabor desejo

(RiCarvalho)

A formula de teu corpo é só desejo:
- picante;
- doce;
- divino.
(me derreto)

Nesta mistura em que eu peco (em gula), por querer:
Deleitar-me no sentir de tua pele;
Entregar-me ao odor de teus cabelos;
E no desejo de despir as tuas vestes.
(Duma sede do sabor que nem senti)

Pois em teus lábios (vermelhos) de pecado eu me vejo.
Pois o iluminar de teu sorrir que me enfeitiça,
Já que nos azuis de teu olhar eu me perdi.

Preciso devorar os sabores desta musa:
- picante;
- doce;
- desejo...
(é só o que eu quis)
...
A musa deste poema foi Esta Bela:
http://www.flickr.com/photos/paulabouvier/4739896007/

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O adeus de uma folha “qualquer”.

(RiCarvalho)

Em meio a um tumulto cotidiano que lhes era indiferente naquele momento, quatro pequenas folhas preparavam-se para um ritual de partida, veriam a mais ressequida e sábia das suas chegar ao seu último outono. Viam-se na estranheza de saber que deviam se despedir, já que aquele era o momento aonde todas chegavam à igualdade – pois até a mais frondosa rosa, um dia também secaria. Era a última das ironias da vida e, para muitos, a mais dura e cruel. Mas a folha, já murcha pelo tempo, olha para as suas companheiras e lhes fala docemente: minhas queridas amigas, não se entristeçam com minha partida iminente. Já sobrevivi a grandes vendavais, mas agarrar-se a arvore para sempre é um dos mistérios do tempo que para sempre nos será desconhecido eu imagino, e devemos respeitas estes desígnios, pois o que nos é dado já é muito – caso soubermos usufruir desse tanto que é o viver cada ruga do tempo – não será uma simples partida. Quero apenas que no momento em que eu me desprender da árvore desta vida, e for adubar a terra, o ar amorteça minha queda e as gotas da garoa ágüem a nova vida a qual levei toda minha existência para ser-lhe. Quiçá desta folha bem vivida nasça um carvalho ou uma flor do campo, e fique para a posteridade algo mais que uma folha seca.

Logo, a folha anciã já aproveitava uma brisa para fazer sua última dança presa a árvore, e em um balanço suave que, contagiando as três – até então – entristecidas amigas, iniciam uma ciranda no mesmo ritmo, em louvor aquela existência. Mas tão logo o ritual chegue próximo do fim, com a força do vento que aumentava, a envelhecida folha se solta do entrelaçado de galhos que se fez sua vida, e afasta-se lentamente das verdes amigas – e do tronco da vida. E as três a vêem continuar sua derradeira dança em uma queda suave, até que, levemente, ela toca o solo que a esperava com um gentil abraço.

As verdes folhas que ficaram vendo o partir da amiga, nada dizem, o silêncio tornou-se o seu canto de despedida, mas em seus pensamentos desejavam tal exemplo. Que quando o tempo de cada uma delas naquela enorme árvore se encerrasse, viajariam bailando ao toque do vento – deixando rastros de alegria e sabedoria – que serviriam de alimento às futuras vidas. Em outro tempo. Em um novo viver.