E eu digo, e ainda caio...

"Se você por acaso cair, não culpe a pedra ou o degrau. Culpe sua visão e atitude falha diante das lombadas no caminho...."RiCarvalho

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sentimento profundo

(RiCarvalho)

Fundo, fundo
me afundo no mar
obscuro
sem ar
afogado
sentimentos abissais
azia...
vislumbramento, te juro!
me perco...
sem chão, nem mundo
parece que sumo
o que faço?
quero seu olhar,
lindo olhar por sinal...
tropeço e caio,
enrubesço.
estende-se uma mão
- É dela.
café, bate-papo
um beijo.
...me aqueço,
e outra vez
eu me perco.
...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

HAIKAI why, uai?

HAIKAI do dia.

O Sol se levanta elegante
sobre relva fina que cobre a colina
Presente, neste novo belo dia.

HAIKAI da tempestade

Furiosa ventania, chuvarada sem rima
Vingativa, castiga as fezes de ingrata humanidade
que, em adversidades, se dói.

HAIKAI tardia

É natural amar a vida
mas não devemos esperar o seu partir
maldita dor nunca espera despedir-se.

HAIKAI do fim

O fim natural das coisas
dói a quem na vida ama outros
por este amor sentir partir.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Poesia ô Poesia

Língua morta
(RiCarvalho)

Aqui jaz a palavra,
Assassinada pelo seu povo,
Adoecida na ponta da língua,
Vivia a mingua,
Mutilada,
Perdida.
Mas, mesmo em epitáfio,
deixou palavras bonitas:
- Paz, amor, liberdade e vida.
são as palavras da palavra,
para que não seja esquecida,
e, pra quem sabe, virar poesia.

(quiçá em merecidas línguas).
...


Águas Passadas
(RiCarvalho)
Eu poderia ter contado (...)
Daquilo que eu sentia
(amor, dor e ódio)
Eu poderia ter me calado (...)
E evitado o pranto daqueles dias
Eu poderia ter dito tantas coisas (...)
E talvez não tivesse perdido

E se não estivesse perdido
- encontrado contigo um dia –
E se não estivesse ferido
- me levantaria e seguiria –
E se soubesse de meu futuro
O meu mundo seria apenas jubilo
Minha casa seria alegria
Meu amor correspondido
Minha história reescrita
(mas só me resta o presente)

Eu deveria ter sabido (...)
Que o rio não voltava
Que as águas do futuro um dia tormentariam
E que a vida, na maioria das vezes,
É como um presente embrulhado e sem remetente
Que quando aberto, nunca mais poderá ser devolvido
(a não ser ao túmulo)
(nas palavras vazias de despedida)
(quiçá nas canções de novos dias)

Pois passageiros somos
- na jangada da vida.


Prisioneiro
(Ricarvalho)

Atrás das grades:
Quadrado luminoso
De ensolarada tarde
- Liberta visões.

Vejo os pardais
E a primavera chegar

Vejo o florir dos campos
Com borboletas a voar

Atrás das grades:
Sinto a dor de ver-se
Solitário e indigno
- das graças do mundo.

Lembro da família
Mãe, irmãos e amigos.

Lembro dos amores
Rita, Isadora, Beatriz, Andréia...
E Aquela.

Atrás destas grades
Estou perdido,
Trancado;
Injustiçado
- culpa da mente.

Pensava poder mudar as coisas
- Mudar o mundo!

Pensava que o outro era confiável
Mas foi o contrario que o outro se mostrou.

Atrás destas grades,
Vejo meu amor se ir
Deixando-me preso,
Amarrado até o pescoço
- a forca seria mais piedosa.

Preso em uma dor que me tirou à calma
Não faço nada, não como; não bebo...
Apenas um reflexo do homem que,
Quando livre, fretava com a felicidade.
(antes da sentença de um amor perdido)
...

Do alto da janela eu vejo
(RiCarvalho)

Da janela da minha sala
eu vejo um mundo que passa
(e ele corre)
Eu vejo a chuva fraca
Caindo nos verdes ipês de abril
Nos cinzas de granito ou no negro asfalto
Que se perdem de vista
(de urbana cidade)
Que substituíra muito do verde que ali tinha
No qual andorinhas bailavam, agora
Só via-se pedra, vidro e metal.

(Trocaram as cores vivas por um colorido artificial)

Mas as aves não desistiram de seu bailar vespertino
E em todo fim de tarde elas vinham
E como em protesto bailavam
No alto de nossas esquinas, sentavam
Nos fios altos que cantavam progresso, miravam
Nos donos de automóveis e asfalto
Cagavam e riam...
(cantavam dementes)

E da janela da minha sala
A tudo assistia, vendo com certa ironia
Que dali não me acertavam - pois dali eu nada fazia...
(sorria demente)
...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O segredo do (bom) trabalho

(Ricarvalho)
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens.”

“Fazer o que gosta” é o senso comum dos especialistas em vocação e colocação profissional. Mas como chegar lá? Os mesmo especialistas admitem que não é fácil chegar lá - para a maioria das pessoas, ao menos, e eu concordo. Até pouco tempo eu não sabia do que gostava, na verdade, não gostava de nada que sustentasse o estilo de vida que eu almejava. Passaram-se anos até que senti na pele o que Gonzaguinha escreveu, e cantou: “E sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata”. Não cheguei literalmente ao “Morre” e “Mata”, mas o sentimento era de algo semelhante. Não que fosse difícil reverter o estado de ociosidade total – neste caso. Certas qualificações podem lhe proporcionar certos tipos de serviços. Mas eu não estava na busca de apenas um serviço e, sim, de um trabalho que engrandecesse meu espírito (com sorte o bolso) – não o ego, pensava. Procurava algo que me fizesse acordar no horário marcado com um sorriso, e este, eu pudesse levar comigo a todos os lugares com a boca cheia de adjetivos do quão gratificante era meu oficio. Mesmo nos maus dias. Ter ciência que o alimento de cada dia e as vestimentas que me cobriam, respingavam gotas de meu suor. Não apenas o óleo viscoso proveniente da transpiração; mas do símbolo do fazer o que gosta todos os dias. Calcular, correr, ensinar, inspirar, escrever e etc – não importava. O que importava era o fazer o que gosta – caso gostasse de algo.

Pensava eu...
Que o importante era o fazer o que gosta e não gostar do que fazia. Mesmo que apenas o suficiente para manter a dignidade e o sustento. Mas o fazer o que gosta estava cravado no intimo e cobria meus ideais como um véu. Fazer o que gosta, fazer o que gosta. Mesmo vivendo em uma caverna e comendo dos restos – fazer o que gosta ou não fazer nada. E a vida se perdia com os dias...

A Bíblia diz, em uma analogia simples de se entender, desta sabedoria em se prover: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa.“ Provérbios 6:6-11. Quem não trabalha não se alimenta, ou vive as custas de outros para isso, como parasitas.

Até aqui pode-se perceber a tolice do narrador – clara como cristal, baseado em um pensamento ilusório. A verdade é que, a busca de um sonho suplantou as possibilidades; tornando as possibilidades, visitantes desconhecidos para um anfitrião arrogante. E o ócio tornou-se preguiça e a preguiça um guia. Estava condenado e não sabia – assim li no Livro: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque no Seol(inferno), para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” Eclesiastes 9:10. – cruz credo, se benze o preguiçoso; se benzia eu. Achei um certo exagero; ir ao inferno por nada fazer? Mas aqui na terra, se nada fizermos para mudar uma situação desagradável, criamos nosso próprio inferno terreno. E viveremos nele até o fim de nossas existências; longas ou curtas – mas infernais, com certeza.

Vejo agora com clareza, que toda aquela monotonia insana baseada em um sonho, que distanciado pelo ego mimado, desperdiçaram meus dias. E examinando, entendi que não devemos esquecer os nossos sonhos. Mas também, devemos vigiar nosso orgulho. O mundo não nos oferece apenas frutas maduras e doces, topamos quase sempre com as verdes e amargas. O exercício da paciência é uma virtude milenar. Como , certa vez assisti, em um filme que não lembro o nome: “todos, um dia, servem café”. E que, principalmente, não existe vergonha nisso; não há vergonha no trabalho – vergonhoso é roubar, e ainda a tantos que o fazem. Hoje, “sirvo café” com orgulho, vendo este serviço como um degrau que me levará aos meus sonhos. Quiçá um dia, meus descendentes aprendam tal lição antes de se darem conta que o tempo só anda para frente, apressado; e que a memória castiga a consciência pelos dias perdidos pelos “SE´s”. “Ah, se eu tivesse...”, é o mais comum, seguido de alguns verbos conjugados no passado para completar a frase. Lamentar é o que nos sobra quando ficamos inertes.

O segredo de um bom trabalho é amar o que estiver fazendo, não deixando de sonhar com o que há de vir – o futuro ainda pode ser escrito no presente, mesmo que aos trancos e barrancos. Pois aquele que busca encontrará - diz um provérbio milenar.

Confesso que estou cansado

(RiCarvalho)
Desta canseira urbana, que cansa a vida, cansativa e vívida de dor ferrenha e seletiva; deste mundo tosco, por oneroso dia; que dia-a-dia passa sem a alegria, por sublime dor - de sublime amor – que canto pelos cantos de meu coração.
(cansativa canção)

É lindo a queda de pétalas, das flores dos Ipês coloridos, que enquanto caem, vivendo contínuo ciclo dançando com o vento; neste balé natural que renova (eternamente); tanto me encantam quanto uma imagem sobrenatural, como se fosse Deus brincando de ciranda, feito criança em seu jardim mundano, cercado de animais bípedes embriagados pela própria vaidade.