(Ricarvalho)
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens.”
“Fazer o que gosta” é o senso comum dos especialistas em vocação e colocação profissional. Mas como chegar lá? Os mesmo especialistas admitem que não é fácil chegar lá - para a maioria das pessoas, ao menos, e eu concordo. Até pouco tempo eu não sabia do que gostava, na verdade, não gostava de nada que sustentasse o estilo de vida que eu almejava. Passaram-se anos até que senti na pele o que Gonzaguinha escreveu, e cantou: “E sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata”. Não cheguei literalmente ao “Morre” e “Mata”, mas o sentimento era de algo semelhante. Não que fosse difícil reverter o estado de ociosidade total – neste caso. Certas qualificações podem lhe proporcionar certos tipos de serviços. Mas eu não estava na busca de apenas um serviço e, sim, de um trabalho que engrandecesse meu espírito (com sorte o bolso) – não o ego, pensava. Procurava algo que me fizesse acordar no horário marcado com um sorriso, e este, eu pudesse levar comigo a todos os lugares com a boca cheia de adjetivos do quão gratificante era meu oficio. Mesmo nos maus dias. Ter ciência que o alimento de cada dia e as vestimentas que me cobriam, respingavam gotas de meu suor. Não apenas o óleo viscoso proveniente da transpiração; mas do símbolo do fazer o que gosta todos os dias. Calcular, correr, ensinar, inspirar, escrever e etc – não importava. O que importava era o fazer o que gosta – caso gostasse de algo.
Pensava eu...
Que o importante era o fazer o que gosta e não gostar do que fazia. Mesmo que apenas o suficiente para manter a dignidade e o sustento. Mas o fazer o que gosta estava cravado no intimo e cobria meus ideais como um véu. Fazer o que gosta, fazer o que gosta. Mesmo vivendo em uma caverna e comendo dos restos – fazer o que gosta ou não fazer nada. E a vida se perdia com os dias...
A Bíblia diz, em uma analogia simples de se entender, desta sabedoria em se prover: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa.“ Provérbios 6:6-11. Quem não trabalha não se alimenta, ou vive as custas de outros para isso, como parasitas.
Até aqui pode-se perceber a tolice do narrador – clara como cristal, baseado em um pensamento ilusório. A verdade é que, a busca de um sonho suplantou as possibilidades; tornando as possibilidades, visitantes desconhecidos para um anfitrião arrogante. E o ócio tornou-se preguiça e a preguiça um guia. Estava condenado e não sabia – assim li no Livro: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque no Seol(inferno), para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” Eclesiastes 9:10. – cruz credo, se benze o preguiçoso; se benzia eu. Achei um certo exagero; ir ao inferno por nada fazer? Mas aqui na terra, se nada fizermos para mudar uma situação desagradável, criamos nosso próprio inferno terreno. E viveremos nele até o fim de nossas existências; longas ou curtas – mas infernais, com certeza.
Vejo agora com clareza, que toda aquela monotonia insana baseada em um sonho, que distanciado pelo ego mimado, desperdiçaram meus dias. E examinando, entendi que não devemos esquecer os nossos sonhos. Mas também, devemos vigiar nosso orgulho. O mundo não nos oferece apenas frutas maduras e doces, topamos quase sempre com as verdes e amargas. O exercício da paciência é uma virtude milenar. Como , certa vez assisti, em um filme que não lembro o nome: “todos, um dia, servem café”. E que, principalmente, não existe vergonha nisso; não há vergonha no trabalho – vergonhoso é roubar, e ainda a tantos que o fazem. Hoje, “sirvo café” com orgulho, vendo este serviço como um degrau que me levará aos meus sonhos. Quiçá um dia, meus descendentes aprendam tal lição antes de se darem conta que o tempo só anda para frente, apressado; e que a memória castiga a consciência pelos dias perdidos pelos “SE´s”. “Ah, se eu tivesse...”, é o mais comum, seguido de alguns verbos conjugados no passado para completar a frase. Lamentar é o que nos sobra quando ficamos inertes.
O segredo de um bom trabalho é amar o que estiver fazendo, não deixando de sonhar com o que há de vir – o futuro ainda pode ser escrito no presente, mesmo que aos trancos e barrancos. Pois aquele que busca encontrará - diz um provérbio milenar.
caramba fiz besteira em um trecho do texto, já arrumo e devolvo.
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