(RiCarvalho)
Me vi a pouco vertendo uma lágrima, singela e sincera. Lia mais uma reportagem sobre certa pessoa, geralmente humilde, que devolvia o dinheiro alheio com desapego e amor; com consciência. Mas tal cena não deveria me emocionar; não deveria me impressionar; deveria sim, ser algo comum. Ser apenas um entre milhares de casos parecidos. Mas ainda é uma cena rara.
A lágrima que me descia pelas maçãs do rosto também levava consigo um quê de mágoa; de tristes lembranças; de um mundo devastado por mazelas... Mundos individuais e coletivos – de puro egoísmo. Pois trouxe a lembrança dos que vivem do suor alheio, da vida alheia. Daqueles que recebem uma dádiva coletiva; daqueles que recebem votos de confiança – daqueles que quebram tais votos pela opulência de seus desejos cada vez mais egoístas, de uma vida vendida para quem paga mais. Dos que se apossam do alheio sem a necessidade e independente disto. Dos que enchem suas cuecas de dinheiro, pois nos bolsos não há mais espaço. E pensando nisso tudo, sinto uma segunda lágrima escorrendo ao rosto.
Sei que minhas lágrimas não estão solitárias, sei que minha descrença no ser humano já é algo normal. E, ainda assim, me emociono com os que mostram que tal pensamento não é universal, que podemos ainda ter alguma esperança, que podemos ainda ter fé no ser humano – não nos que apenas se vestem como tal em eleições; catedrais e por trás de belas retóricas. Sei que muitos encontram dinheiro nas ruas e pensam “que sorte!”, e se esquecem que tal sorte pra si, foi o azar de outro. Então me vejo entre estes - sem hipocrisia. E uma terceira lágrima desce de meus olhos.
Percebo-me preso no senso comum, que não me era comum anteriormente, e isto me desagrada: “Por que não roubar também se pintar a oportunidade? Achado não é roubado quem perdeu é relaxado; Ah, bati de raspão, vou tirar meu carro antes que o outro venha me encher o saco”. Percebo o erro de ser desonesto por lê que ainda existem pessoas honestas. E uma quarta lágrima verte entre as outras de meu pesar.
Com lágrimas nos olhos me pego pensando: e se isso tudo fosse diferente? E neste pranto, e mesmo neste desejo de uma mudança... Ainda não consigo enxergar um mundo inteiro de pessoas desapegadas; honestas. Mas penso já não me resignar, pois as lágrimas que me descem os olhos elevam meu pensamento a esperança de que eu posso fazer a minha parte – que eu devo fazer a minha parte.
Quiçá a minha parte, também faça verter lágrimas de consciência em um outro. E então, minhas lágrimas não terão descido em vão. E talvez, as deste também não.
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